Estratégia de Leitura – Sequência de
Atividades para a Leitura do Texto Pausa de Moacyr Scliar
Público alvo: 9º ano
Duração: 6 aulas, sendo 2 aulas para (antes e durante a
leitura), 4 aulas para depois da leitura.
Objetivo: Ler com atenção, encontrar informações adequadas
no texto, revelar habilidade para interpretar e refletir sobre a realidade do
texto e sua própria, tirar conclusões, comparar textos de diferentes gêneros,
pesquisar vocabulário pertinente ao contexto.
Leia o Texto de Moacyr Scliar
PAUSA
Às sete horas o
despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para o banheiro. Fez a barba e
lavou-se. Vestiu-se rapidamente e sem ruído. Estava na cozinha, preparando
sanduíches, quando a mulher apareceu, bocejando:
—Vais
sair de novo, Samuel?
Fez que sim com a
cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as sobrancelhas eram espessas,
a barba, embora recém-feita, deixava ainda no rosto uma sombra azulada. O
conjunto era uma máscara escura.
—Todos
os domingos tu sais cedo – observou a mulher com azedume na voz.
—Temos
muito trabalho no escritório – disse o marido, secamente.
Ela olhou os
sanduíches:
—Por
que não vens almoçar?
—Já
te disse: muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche.
A mulher coçava a
axila esquerda. Antes que voltasse a carga, Samuel pegou o chapéu:
—Volto
de noite.
As ruas ainda estavam
úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem. Guiava vagarosamente, ao
longo do cais, olhando os guindastes, as barcaças atracadas.
Estacionou o carro
numa travessa quieta. Com o pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou
apressadamente duas quadras. Deteve-se ao chegar a um hotel pequeno e sujo.
Olhou para os lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no
balcão, acordando um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o
gerente. Esfregando os olhos, pôs-se de pé:
—Ah!
Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é? A gente...
—Estou
com pressa, seu Raul – atalhou Samuel.
—
Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre - Estendeu a chave.
Samuel subiu quatro
lanços de uma escada vacilante. Ao chegar ao último andar, duas mulheres
gordas, de chambre floreado, olharam-no com curiosidade:
—Aqui,
meu bem! – uma gritou, e riu: um cacarejo curto.
Ofegante, Samuel
entrou no quarto e fechou a porta a chave. Era um aposento pequeno: uma cama de
casal, um guarda-roupa de pinho: a um canto, uma bacia cheia d’água, sobre um
tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de
viagem, deu corda e colocou-o na mesinha de cabeceira.
Puxou a colcha e
examinou os lençóis com o cenho franzido; com um suspiro, tirou o casaco e os
sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama, comeu vorazmente quatro
sanduíches. Limpou os dedos no papel de embrulho, deitou-se fechou os olhos.
Dormir.
Em pouco, dormia. Lá
embaixo, a cidade começava a move-se: os automóveis buzinando, os jornaleiros
gritando, os sons longínquos.
Um raio de sol filtrou-se
pela cortina, estampou um círculo luminoso no chão carcomido.
Samuel dormia;
sonhava. Nu, corria por uma planície imensa, perseguido por um índio montado o
cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto da testa, nas colinas
do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia-se e resmungava. Às
duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas. Sentou-se na cama,
os olhos esbugalhados: o índio acabava de trespassá-lo com a lança. Esvaindo-se
em sangue, molhando de suor, Samuel tombou lentamente; ouviu o apito soturno de
um vapor. Depois, silêncio.
Às sete horas o
despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a bacia, levou-se.
Vestiu-se rapidamente e saiu.
Sentado numa
poltrona, o gerente lia uma revista.
—
Já vai, seu Isidoro?
—Já
– disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em silêncio.
—Até
domingo que vem, seu Isidoro – disse o gerente.
—Não
sei se virei – respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caia.
—O
senhor diz isto, mas volta sempre – observou o homem, rindo.
Samuel saiu.
Ao longo dos cais,
guiava lentamente. Parou um instante, ficou olhando os guindastes recortados
contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa.
(in: Alfredo Bosi, org. O conto
brasileiro contemporâneo. São Paulo: Cultrix, 1977. p. 275)
I – Resgate do
contexto de Produção
1. Tarefa anterior à aula: pesquisa sobre a
biografia e bibliografia de Moacyr Scliar.
2. Recuperar conhecimentos
sobre o gênero crônica.
II – Ativação de
conhecimentos prévios
- Você sabe o que é uma
pausa?
- Você já “deu um tempo” em alguma situação de
sua vida? Ou já ouviu de alguém essa
expressão?
III – Antecipação ou
Predição
- O que o título sugere?
- Do que trata o texto?
- O que você acha que vai
ocorrer?
IV – Checagem de
Hipóteses
- Devolutiva dos alunos
(Durante a leitura realizada pelo professor), haverá interrupções
para checagem das
hipóteses previamente levntadas pelos alunos e ou para novas
predições.
V – Localização de
informações
Localizar no texto
informações descritivas sobre o cotidiano do personagem Samuel.
VI – Generalização
- Por que Samuel tinha a
intenção de sair antes que a mulher acordasse?
- Qual a reação da esposa
ao saber que o marido estava saindo mais um domingo?
II –V Produção de
Inferências Locais
- Qual o motivo de Samuel
ter mudado seu nome para o gerente do hotel?
- Qual é a realidade que
Samuel se insere?
VIII – Produção de
inferências globais
- O que sugere a
expressão no texto “chambre floreado”?
- O que as duas mulheres
gordas de chambre floreado faziam no hotel?
IX – Recuperação de
Contexto de Produção do Texto
- Você conhece o escritor
Moacyr Scliar?
- Qual a intenção do autor
ao publicar este texto?
- Onde circula este tipo
de texto?
X – Definição de
Finalidades e Metas da Atividade de Leitura
- Ativação das estratégias
de leitura.
- Ler para refletir sobre o
cotidiano da personagem confrontando com o nosso.
- Ler por prazer
(fruência).
XI – Percepção de
Relações de Intertextualidade
- Perguntar ao aluno se há
em seu repertório algum outro texto que dialogue com Pausa.
- Para enriquecer o
trabalho apresentar aos alunos outros tipos de textos, imagens, filmes,
músicas que dialoguem com
o texto.
I Cota Zero
A vida parou
ou foi o automóvel?
ou foi o automóvel?
(Carlos
Drummond de Andrade)
II Pausa
uma pausa na pausa do tempo
é acordar em movimento
é uma investida no sentimento
é deixar a vida ao sabor do vento
é desenhar no arco-íris uma cor diferente
(A.Silvestre)
III Tédio
“Deitado no meu quarto,
O tempo voa.
Lá fora a vida passa
E eu aqui à toa. X
Eu já tentei de tudo
Mas não tenho remédio,
Pra
livrar-me desse Tédio.” (Biquini
Cavadão)
XI – Percepção de
Outras Linguagens
- De acordo com a imagem e
o poema de Carlos Drummond de Andrade, como podemos
relacioná-lo ao poema?
- Após a leitura do trecho
da música Tédio de Biquini Cavadão, de que forma podemos
relacioná-la às saídas de
Samuel aos domingos?
XII – Elaboração de Apreciação
Estética e ou Afetivas
O narrador mostra que a personagem
necessita escapar de uma determinada situação e
arma um plano de fuga.
- Você já se viu nessa
situação, ou conhece alguém que age assim?
XIII – Elaboração de Apreciações
Relativas a Valores Éticos e ou Políticos
- Você acha correta a atitude de Samuel dando
estas “escapadinhas” aos domingos?
- Você acha que para um
casal manter-se juntos é necessário “dar uma pausa” às vezes?
- E quanto à esposa de
Samuel, teria ela também pontos de fuga? Quais poderiam ser?
DEPOIS DA LEITURA
- Desenvolver trabalhos em parceria:
. Com professor de História, sobre
comportamentos do homem e da mulher no século
XIX e da era contenporânea.
. Com professor de Artes, dramatização,
teatro, temas cotidianos.
. Em Língua Portuguesa, continuar
compartilhando textos, filmes, músicas da mesma
temática; produzir textos partindo do
desfecho da história; produzir texto relato de
experiência de “pontos de fuga”, ou seja,
momentos de parar, de refletir.
Sandra Comparoni, a SA ficou muito boa.
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