sexta-feira, 21 de junho de 2013

Situação de aprendizagem


Neusa Pereira de Andrade Botelho

ESTRATÉGIAS DE LEITURA


Sequência de atividades para a leitura do texto Meu primeiro beijo, de Antônio Barreto

Público alvo – 8º. Ano

Duração – 6 aulas: 2 aulas para trabalhar as estratégias de leitura (antes e durante a leitura) e 4 aulas para trabalhos depois da leitura

Objetivo: Mobilizar estratégias para explorar, desenvolver e ampliar capacidades de leitura, produção de um Relato de Experiência ( relatar as primeiras experiências de relacionamentos ou até mesmo de relacionamentos platônicos).

Meu primeiro beijo - Antonio Barreto
É difícil acreditar, mas meu primeiro beijo foi num ônibus, na volta da escola. E sabem com quem? Com o Cultura Inútil! Pode? Até que foi legal. Nem eu nem ele sabíamos exatamente o que era "o beijo". Só de filme. Estávamos virgens nesse assunto, e morrendo de medo. Mas aprendemos. E foi assim...
Não sei se numa aula de Biologia ou de Química, o Culta tinha me mandado um dos seus milhares de bilhetinhos:
" Você é a glicose do meu metabolismo.
Te amo muito!
''Paracelso"
E assinou com uma letrinha miúda: Paracelso. Paracelso era outro apelido dele. Assinou com letrinha tão minúscula que quase tive dó, tive pena, instinto maternal, coisas de mulher...E também não sei por que: resolvi dar uma chance pra ele, mesmo sem saber que tipo de lance ia rolar.
No dia seguinte, depois do inglês, pediu pra me acompanhar até em casa. No ônibus, veio com o seguinte papo:
- Um beijo pode deixar a gente exausto, sabia?
Fiz cara de desentendida.
Mas ele continuou:
- Dependendo do beijo, a gente põe em ação 29 músculos, consome cerca de 12 calorias e acelera o coração de 70 para 150 batidas por minuto. - Aí ele tomou coragem e pegou na minha mão. Mas continuou salivando seus perdigotos:
- A gente também gasta, na saliva, nada menos que 9 mg de água; 0,7 mg de albumina; 0,18 g de substâncias orgânicas; 0,711 mg de matérias graxas; 0,45 mg de sais e pelo menos 250 bactérias...

Aí o bactéria falante aproximou o rosto do meu e, tremendo, tirou seus óculos, tirou os meus, e ficamos nos olhando, de pertinho. O bastante para que eu descobrisse que, sem os óculos, seus olhos eram bonitos e expressivos, azuis e brilhantes. E achei gostoso aquele calorzinho que envolvia o corpo da gente. Ele beijou a pontinha do meu nariz, fechei os olhos e senti sua respiração ofegante. Seus lábios tocaram os meus. Primeiro de leve, depois com mais força, e então nos abraçamos de bocas coladas, por alguns segundos.

E de repente o ônibus já havia chegado no ponto final e já tínhamos transposto, juntos, o abismo do primeiro beijo.

Desci, cheguei em casa, nos beijamos de novo no portão do prédio, e aí ficamos apaixonados por várias semanas. Até que o mundo rolou, as luas vieram e voltaram, o tempo se esqueceu do tempo, as contas de telefone aumentaram, depois diminuíram... e foi ficando nisso. Normal. Que nem meu primeiro beijo. Mas foi inesquecível!

(BARRETO, Antônio. Meu primeiro beijo. In: Balada do primeiro amor. São Paulo, FTD, 1977, cap. 24, p. 134-6)

I - Resgate do contexto de produção:
1. Tarefa dada anteriormente à aula: pesquisar sobre Antônio Barreto.
2. Apresentação do livro (portador) Balada do primeiro amor – capa, contracapa, editora; os alunos apresentam o resultado da pesquisa sobre o autor, sendo ela complementada pelo professor quanto ao estilo, a contemporaneidade, a linguagem utilizada pelo autor, que o aproxima muito do seu público alvo – os adolescentes.
3. Recuperar os conhecimentos sobre o gênero romance e foco narrativo.

II - Ativação de conhecimentos prévios a partir do título do capítulo a ser lido: Meu primeiro beijo
1. Questionar os alunos se acham que seria interessante ler uma obra com o título Balada do primeiro amor. O que esperar da história?
2. A capa é sugestiva? Está de acordo com o público alvo?
3. Sem ainda falar sobre o capítulo a ser lido, partindo da palavra “primeiro”, pedir para que os alunos falem do que se lembram que tenha sido o “primeiro” em suas vidas.
4. E sobre o primeiro beijo, o que têm para falar?
5. Foi um momento marcante? Inesquecível?

III - Levantamento de hipóteses - antecipação ou predição de conteúdos a partir do título
1. O que esperam encontrar num texto cujo título é Meu primeiro beijo?
2. Anotar na lousa as hipóteses levantadas para a checagem durante a leitura.

IV - Checagem de hipóteses e novas predições
Entregar o texto para os alunos. A leitura, feita pelo professor, será interrompida para a checagem das hipóteses anteriormente levantadas ou para novas predições de conteúdos, a partir das questões dos itens seguintes.
(Há outras perguntas a serem feitas até o final do texto. Para não nos estendermos muito, apenas colocamos algumas para exemplificar o que pode ser feito e não necessariamente nesta ordem rigorosa. À medida que a leitura avançar, as perguntas serão feitas contemplando.)

V - Localização de informações e comparações no texto
1. Como explicar a comparação que Paracelso faz ao escrever para a garota: “Você é a glicose do meu metabolismo”?
2. Ela resolve “dar uma chance para ele” (terceiro parágrafo). Que chance seria essa? Que parte do texto comprova sua resposta?
3. No final do último parágrafo, temos uma comparação: “Normal. Que nem meu primeiro beijo. Mas foi inesquecível.” O que a personagem compara?

VI - Inferências locais
1. Destaque no texto passagens que justificam o apelido de Cultura Inútil para o garoto.
2. “Mas continuou salivando seus perdigotos”. Pelo contexto, o que você entende por “perdigotos”? (Observe que ela vem associada a “salivando” e “saliva” , no parágrafo seguinte).
3. Por que a garota chama o Cultura Inútil de “bactéria falante”?
4. “... e foi ficando nisso.” (final do último parágrafo). A que se refere o pronome destacado?

VII – Inferências globais
1. No primeiro parágrafo, a personagem diz: “Com o Cultura Inútil! Pode? Até que foi legal.” O que podemos inferir em sua fala?
2. Por que Paracelso assinou o bilhete com letrinha miúda?
3. Por que a garota quase teve dó, pena do Cultura Inútil ou Paracelso? Isso justifica sua fala no primeiro parágrafo (conforme questão 1)?
4. O uso de “perdigoto” foi no sentido denotativo ou conotativo?
5. “então nos abraçamos de bocas coladas, por alguns segundos.” “De repente o ônibus já havia chegado”. Considerando a relação de tempo entre “alguns segundos” e “de repente”, reforçada por “já”, o que podemos comentar?
6. O que podemos comentar na passagem “tínhamos transposto, juntos, o abismo do primeiro beijo”?
7. Que significado pode-se atribuir a “o mundo rolou, as luas vieram e voltaram, o tempo se esqueceu tempo”?

VIII – Relações de intertextualidade
Para a verificação das relações de intertextualidade, perguntar para os alunos se há em seu repertório algum outro texto que dialogue com o capítulo lido. Para enriquecer essa etapa do trabalho, apresentar aos alunos trechos de outros textos como Meu primeiro beijo, de Walcyr Carrasco; O primeiro beijo, de Clarice Lispector; O primeiro beijo, de Márcia Kupstas e outros. Nesse diálogo com outros textos há também a intenção de despertar nos alunos a curiosidade e o interesse para lê-los.

IX - Relações de interdiscursividade
1. Na passagem: “instinto maternal, coisas de mulher...” a que a personagem se refere? Esse discurso é seu ou de outrem?
2. Toda a explanação que o Cultura Inútil faz sobre o beijo, apoia-se no discurso de outras pessoas?

X - Percepção de outras linguagens
Levar outras fontes que tenham como tema o beijo, como a escultura de Rodin - O beijo - , Eros e Psyque, de Canova, o quadro de Klimt e cenas antológicas de vários filmes, aproveitando que a personagem diz conhecer o beijo “Só de filme.”, em que o beijo ocorreu e marcou cenas como no final de Casablanca, por exemplo.
A cena do filme A Dama e o Vagabundo http://www.youtube.com/watch?v=0aoBUpn4n_4
A cena do filme My Girl ( Meu primeiro amor) http://www.youtube.com/watch?v=kI_N4njmC6U
O filme Nunca fui beijada , filme norte americano de 1999, comédia romântica dirigida por Raja Gosnell
O poema
SEM SAÍDA
E agora, o que faço?
Fujo, tremo, desmaio?
Encaro o meu amor,
Ponto final, reticências ou traço,
Fico ou saio?
(Ulisses Tavares)

XI - Apreciações estéticas e/ou afetivas
1. Leia o terceiro parágrafo do texto. Que valor expressivo têm as reticências em “instinto maternal, coisas de mulher...”? Têm o mesmo valor no final do texto: “depois diminuíram... e foi ficando nisso.”?
2. “Ele beijou a pontinha do meu nariz,”. O uso diminutivo foi para indicar “ponta pequena” ou deu à passagem do texto um outro significado? Qual?
3. O mesmo pode ser aplicado na passagem anterior: “E achei gostoso aquele calorzinho que envolvia o corpo da gente.”?

XII - Apreciações relativas a valores éticos
1. “É difícil acreditar, mas meu primeiro beijo foi num ônibus,”. Considerando que o texto é da década de 70 (já comentado quando da apresentação da capa) e de acordo com os costumes da época, beijar num ônibus seria normal? A personagem mostra isso em sua fala?
2. Você concorda que o primeiro beijo modifica o comportamento das pessoas? Como isso é mostrado no texto? E para você?
DEPOIS DA LEITURA
Desenvolver um trabalho em parceria:
com o professor de Ciências sobre os riscos trazidos pelo beijo, pela saliva;
com o professor de História – o beijo em outras culturas;
com o professor de Arte – pesquisa sobre pinturas e esculturas cujo tema seja o beijo;
em Língua Portuguesa:
continuar com a leitura de outros textos e músicas com a mesma temática;
escrever um relato do que se passou, no último parágrafo, entre “Desci, cheguei em casa ... por várias semanas.” até “Até que o mundo rolou ...diminuíram...”;
mudar a ponto de vista do texto, trabalhando os capítulos XXXIII e XXXIV de Dom Casmurro, dando voz ao Cultura Inútil, num diálogo com Bentinho.
construir um relato de experiência vivida com o tema ''O meu primeiro beijo''.

AVALIAÇÃO: Ocorrerá durante todo o desenvolvimento das atividades, mediante a verificação da participação e desempenho do alunos: antes , durante e depois da Leitura.E para o professor servirá como um exercício reflexivo quanto à metodologia e recursos utilizados(autoavaliação), além de norteador para a continuidade dos conteúdos.















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